TRABALHO DE METODOLOGIA CIENTIFÍCA
Filosofia/2010 – UEPA
ANÁLISE DO DISCURSO
REFERÊNCIA: Orlandi, Eni P. ANÁLISE DO DISCURSO.
A análise do discurso é problematizar as maneiras de ler, conduzir o leitor e o sujeito falante ao que é produzido, sem esquecer as diferentes manifestações da linguagem, nos mantendo mais atento na relação com a linguagem.
Saber como é o funcionamento do discurso é colocar-se entre a memória institucional e a memória constituída, não sendo, portanto, matéria fácil, por tal motivo, existe um corpo social para o qual é repassada tal atribuição, do qual fazem parte o juiz, o professor, o advogado, entre outras categorias profissionais. Também, não podemos esquecer que todo discurso não tem início nem ponto final definitivo, pois sempre se trata de uma proposta de reflexão.
Na análise do discurso, o objetivo é compreender a língua fazendo sentido, pois concebe a linguagem como ponte entre o homem e a realidade.
Um dos fatores a ser analisado para a compreensão da linguagem é a relação da mesma com a sua exterioridade, já que os estudos discursivos objetivam pensar o sentido, dimensionando-o no tempo e no espaço das práticas do homem, utilizando-se, para tanto, o campo das ciências sociais e o conhecimento da linguística. No entanto, deve-se ressaltar que a análise do discurso tem suas críticas em relação a linguística e às ciências sociais, pois acredita que a linguagem se materializa na ideologia e esta, se manifesta na língua.
Como a análise do discurso não considera a linguagem transparente, a questão para o estudioso é como este texto significa? Alterando o mote da indagação para o “como” e não para o “que”.
A análise do discurso, em meados do Séc. XX, utilizou-se de questões formuladas pela linguística, pelo marxismo e pela psicanálise, tendo como resultado, a produção de um novo recorte de disciplinas, constituindo um novo objeto de estudo: o discurso.
Tendo em vista que a linguagem serve para comunicar e para não comunicar, pode-se dizer que o discurso é o efeito de sentido entre locutores. Então, conclui-se que nem o discurso é visto como uma liberdade em ato, nem a língua como totalmente fechada em si mesma, portanto a língua é assim condição de possibilidade do discurso.
Os sentidos de um discurso não estão só nas palavras, mas na relação com a exterioridade, como já dito acima. O que é dito são efeitos de sentido que são produzidos em condições determinadas e que estão presentes na forma como se fala.
As condições de produção de um discurso são o sujeito e a situação, ou seja, a memória, o contexto sócio-histórico e o teor ideológico, tanto do que produz o discurso quanto do que absolve esse discurso.
A memória é tratada como interdiscurso, pois e definida como aquilo se fala antes de ser dito, por isso é conhecida como memória discursiva. Todos os sentidos já ditos por alguém em alguma fase da história, mesmo em um passado muito longínquo, têm um efeito, são os sentidos convocados pela formulação. As palavras não são nossas, elas significam pela história e pela língua.
Courtine(1984) aborda a diferença entre interdiscurso, o qual seria um eixo vertical onde teríamos todos os dizeres já ditos, enquanto que o intradiscurso seria aquilo que estamos dizendo naquele momento dado, em condições dadas.
Não podemos confundir interdiscurso, já descrito acima, com intertexto, que nada mais é do que a relação de um texto com outros textos.
Temos ainda a ideologia, que é a relação entre a língua e a história e por nossa experiência simbólica. O fato de não existir sentido sem interpretação atesta a presença da ideologia. A ideologia e a função da relação necessária entre linguagem e mundo, ou seja, não há sujeito sem ideologia.
Quando nascemos, os discursos já estão em processo e nós é que entramos nesse processo, não se originando os mesmos em nós.
A formação discursiva se define como aquilo que numa formação ideológica dada, determina o que pode e deve ser dito. As formações discursivas são constituídas pela contradição. Tudo o que é dito em um discurso tem um traço ideológico em relação a outros traços ideológicos.
Surge no discurso a metáfora, que no discurso é a tomada de uma palavra por outra, já que não há sentido sem metáfora.
O estudioso do discurso observa as condições de produção e verifica o funcionamento da memória, remetendo o dizer a uma formação discursiva para compreender o sentido do que ali está dito.
A POLISSEMIA DA NOÇÃO DE LEITURA
Referência: Orlandi, Eni Pulcinelli. Apresentação. Discurso e Leitura. 3ª Ed. Editora UNICAMP. São Paulo. p. 07-12.
Referência: ______. Apêndice. Discurso e Leitura. 3ª Ed. Editora UNICAMP. São Paulo. P. 71-72.
Existem diversos conceitos para a palavra leitura com vários sentidos, no entanto, este texto serve para trabalhar a idéia de interpretação e compreensão.
A leitura é uma questão de historicidade, já que é necessário ser abordada as condições, os modos de relação, de trabalho, de produção de sentidos, para realizá-la com a devida compreensão que todo texto merece.
Existem modos diferentes de leitura, dependendo do contexto em que se dá e de seus objetivos, além do que, quando se lê, deve ser considerado não apenas o que está escrito, mas também o que está implícito. Isso mostra a complexidade do processo de leitura, pois saber ler significa identificar o que o texto diz e o que ele não diz.
UNIDADE E DISPERSÃO: UMA QUESTÃO DO TEXTO E DO SUJEITO
Referência: Orlandi, Eni Pulcinelli. Unidade e dispersão: Uma Questão do Texto e do Sujeito. Discurso e Leitura. 3ª Ed. Editora UNICAMP. São Paulo. p. 53-62.
Pode-se dizer que o discurso é caracterizado pela dispersão tanto do texto quanto do sujeito.
O discurso não é um conjunto de texto, e sim uma prática. O que deve ser analisado em um discurso são os processo de sua produção. O sujeito se constitui como autor ao constituir o texto.
A relação do sujeito com o texto, deste com o discurso e a formação do discurso de forma discursiva é que dá a noção de unidade de um discurso.
As várias formações do sujeito podem representar diferentes formações discursivas no mesmo texto. Tanto que de acordo com a análise do discurso, o sentido é determinado pelas posições ideológicas colocada no processo sócio-histórico em que as palavras são produzidas.
TEXTO: A LIÇÃO DA GREVE
Analisando o discurso empregado no texto do título acima, acima, verifica-se, através de seu discurso ideológico, que o texto foi escrito por um banqueiro, que caracterizou a greve como um movimento anti-democrático, pois feria o direito individual do trabalhador que desejava trabalhar e foi impedido por piquetes organizados nas portas dos Bancos, onde, na verdade, o que foi ferido foi o bolso do banqueiro que com a interrupção das agências bancárias viu sua porcentagem de lucro diminuir.
Interessante salientar que tal texto foi escrito no editorial da revista Istoé, em meados do ano de 1985, após a “queda” do Ministro da Fazenda, e não houve uma página sequer, na revista, em que o pensamento do bancário fosse expresso, ficando apenas o ponto de vista de um banqueiro para os leitores apreciarem. Isso sim, ao meu ver, é ferir a democracia, pois ao tolher a informação aos leitores, aplicou-se uma espécie de ditadura da informação para que os consumidores de tal periódico enxergassem um fato apenas por um ângulo.
AS INFORMAÇÕES IMPLICITAS
Referência: Forin, José Luiz. Informações Implícitas. Para Entender o Texto. 16ª Ed. São Paulo. Editora Ática. p. 240-249.
Um dos aspectos mais intrigantes de um texto é que ele pode dizer coisas que parece não estar dizendo. Além das informações explicitas, existem as pressupostas e as subtendidas.
O pressuposto é uma idéia que, apesar de não estar no texto, é compreendida através de algum indicador lingüístico, como advérbio, verbo, oração adjetiva e os próprios adjetivos.
O pressuposto sempre tem que ser verdadeiro e, portanto, transforma o leitor em um cúmplice, aprisionando o ouvinte no sistema montado pelo autor.
Já o subtendido são insinuações escondidas por trás de uma informação. O subtendido é de responsabilidade do ouvinte, pois o autor ao usar tal artifício se esconde por trás do sentido literal das palavras. No subtendido, a frase sugere, mas não diz.